Bruno Catela, gestor de energia da Helexia, diz que “produzir localmente é sempre vantajoso, em termos financeiros e ambientais” mas as empresas têm gerir o consumo para evitar desperdício energético.
De acordo com um estudo realizado pela Agência Internacional de Energia, cerca de 30% do consumo energético nas empresas corresponde a desperdício, seja ele por ineficiência dos sistemas técnicos ou ineficiência operacional, por erro humano. Neste contexto, implementar medidas de eficiência energética faz ainda mais sentido quando se trata de uma empresa, seja ela uma microempresa ou uma fábrica com consumos energéticos intensivos.
“Eficiência energética é muito mais do que painéis fotovoltaicos. As empresas devem dar um passo maior e implementar um sistema de gestão de consumos de energia elétrica, gás, biomassa, gasóleo, ou qualquer outro tipo de fonte energética, para os tornar mais eficientes ao longo tempo, resultando assim numa redução de custos operacionais e emissões de gases de efeito de estufa”, defende Bruno Catela, gestor de energia da Helexia, empresa de soluções de sustentabilidade energética, produção e gestão de energia solar e mobilidade elétrica.
Para começar há que monitorizar e registar em permanência os dados dos equipamentos com maior consumo energético na empresa, já que desta forma “é mais fácil identificar os desperdícios e perceber se há picos de consumo em alturas de não-produção dos sistemas de produção produção própria”, se estes existirem. Ou seja, instalar painéis solares sim, mas “para um correto dimensionamento é necessário saber como se comporta o perfil de consumo da empresa e em que alturas do dia é necessário produzir energia para autoconsumo e evitar o excedente”.
Quanto mais informação for recolhida, menos a empresa decidirá com base em estimativas e mais certezas terá na hora de avançar com os investimentos certos para obter maior retorno. Bruno Catela dá um exemplo: “Numa unidade industrial surgiu a necessidade de substituir a atual caldeira por uma nova com maior rendimento. Após realizarem auditoria energética, e analisado com detalhe o perfil de consumo, chegaram à conclusão de que o sistema de transporte e utilização do calor (proveniente da caldeira) era muito ineficiente. Conclusão, o projeto viu a sua rentabilidade aumentada, com a redução do desperdício energético”.
E se a todas as empresas é recomendado que tenham um sistema de gestão de energia, este deve ser acima de tudo adequado à sua realidade. “Poderá ser implementado com vários graus de complexidade, que deverão considerar o proveito expectável em função do investimento a ser realizado para que não se torne numa despesa acrescida nas operações das empresas, mas sim numa fonte de receita através da redução do desperdício energético”, explica o gestor.
No caso dos grandes consumidores de energia (indústria, edifícios de retalho, hotéis, etc.), defende, é aconselhável ter um sistema de monitorização em tempo real e a comunicar com um software de gestão de energia apropriado, “pois qualquer acréscimo ao padrão de consumos energéticos irá ter um grande impacte financeiro e ambiental”. Já numa numa microempresa basta ter informações dos comercializadores (faturas de eletricidade, gasóleo, gás natural, etc.) ou um registo manual diário dos consumos indicados pelo contador geral de energia.
O investimento também varia. “Por exemplo, uma unidade fabril com quatro linhas de produção e três máquinas principais por cada linha, podemos considerar em média 750 euros por ponto de análise perfazendo um investimento de 9.000 euros. Em operação, deverá ser considerado o custo da subscrição de um software de gestão de energia, o que neste caso poderá custar 480€/ano”, calcula Bruno Catela. Somam-se ainda os trabalhos de desenvolvimento de toda a estrutura do sistema — elaboração da política energética, procedimentos operacionais, auditoria energética inicial, entre outros — cujo valor pode médio pode ser estimado em 20.000 euros.
De acordo com o gestor da Helexia, existem dois quadros legais para a gestão dos consumos energéticos nas empresas: o Sistema de Gestão de Consumos Intensivos de Energia (SGCIE) para o setor industrial e o Sistema de Certificação Energética para os edifícios de habitação e serviços. Ambos obrigam à realização de auditorias energéticas periódicas.
Ao abrigo do SGCIE, as empresas têm a obrigação de reduzir os seus consumos em 6% (até 1000 tep — unidade de consumo energético universal) e 8% (acima de 1000 tep) num período de 6 ou 8 anos, respetivamente. No caso do SCE, a auditoria energética apresenta as várias oportunidades de melhoria, mas sem um caráter de obrigatoriedade de implementação.
Quanto à instalação de painéis fotovoltaicos, cada vez mais uma opção para as empresas portuguesas, Bruno Catela diz que se adequa a qualquer empresa que tenha um espaço disponível para os colocar – sem sombreamentos e de preferência orientado a sul. “Produzir localmente a energia que necessitamos é sempre vantajoso, em termos financeiros e ambientais, mas existem alguns setores que conseguem ter uma maior vantagem do que outros, seja pelo perfil de consumo ou pela quantidade de consumo”, explica.
Acima de tudo, o objetivo é “evitar o excedente de energia produzida, pois o preço de venda à rede elétrica nacional é mais baixo do que o preço de compra e assim quanta mais energia excedentária existir, menor é o retorno financeiro do investimento realizado com a central fotovoltaica”.